Os meus pais divorciaram-se. E agora?

O aumento da taxa de divórcios é uma realidade cada vez mais atual, e o seu impacto negativo é vivido quer pelos pais quer pelos filhos que, frequentemente, se sentem perdidos, inquietos, com medos e receios, com descrença nas relações e, algumas vezes, incompreendidos. Muitos filhos não querem que os seus pais se divorciem: alguns têm sentimentos mistos, especialmente quando sabem que os Pais não eram felizes juntos, e outros, podem até sentir-se aliviados quando os pais se divorciam, especialmente quando existem muitas discussões.

O processo de divórcio é, na grande maioria das vezes, um processo bastante moroso (desde a tentativa de resolução dos problemas, até à tomada de decisão), sendo por isso um processo que vai desgastando muito o ambiente familiar e os seus elementos.

É concensual que existem três fases principais normativas no processo de divórcio:

1) Separação: nesta fase as discussões entre o casal são cada vez mais frequentes e culmina com a saída de um dos pais do lar. Verifica-se uma grande desorganização familiar e, geralmente, uma menor atenção às necessidades dos filhos por parte do casal (sendo nesta fase essa atenção/ paciência/ conversa tão importante para todo o processo seguinte, por ser nesta fase também que as emoções negativas são mais acentuadas, daí a sensação de incompreensão!);

2) Reconstrução: Etapa transaccional em que os pais e filhos procuram reconstruir as suas vidas e atribuir significados, sendo por isso muitas vezes também uma fase de mudança (p.e.: de trabalho, de escola, amizades);

3) Estabilização: Fase em que a família volta a escontrar alguma estabilidade.

Importa sempre relembrar às famílias (quer aos pais, quer aos filhos) que o divórcio é entre o marido e a mulher, e embora afecte a família inteira, não significa que o elemento que sai de casa deixe de gostar e de cuidar dos filhos. O divórcio não muda um facto importante: uma Mãe ou um Pai que vive noutra casa continua a ser a nossa Mãe ou o nosso Pai. Isso é para sempre. Nunca mudará. Os Pais podem divorciar-se entre eles, mas não se divorciam dos seus filhos.

 

Notas a considerar!

1) Os filhos NÃO causam o divórcio dos pais

Os Pais podem divorciar-se por diversas razões, nomeadamente porque não conseguem resolver os problemas que existem entre eles, porque deixaram de se amar, ou porque simplesmente deixou de fazer sentido estarem juntos. Sejam quais forem as razões, uma coisa é certa: os filhos não causam o divórcio dos Pais.

Ainda assim, muitos filhos acreditam que foi por sua causa que os Pais se divorciaram. Pensam que se se tivessem portado melhor, se tivessem tido melhores notas ou ajudado mais em casa, o divórcio não tinha acontecido. Mas isto não é verdade! O divórcio é sempre um assunto apenas entre os Pais. Os filhos nunca são a razão pela qual os Pais terminam a sua união e isso deve ser explicado aos filhos.

2) Os filhos não podem evitar o divórcio dos Pais

Tal como divórcio não é responsabilidade dos filhos, também evitá-lo ou fazer com que os Pais voltem a ficar juntos não é responsabilidade dos filhos. Aliás, na maioria dos casos, por muito que os filhos gostassem ou desejassem que os Pais voltassem a ficar juntos e até tentassem que isso acontecesse, tal acaba por não acontecer, cabendo aos Pais impor limites e clarificar as fronteiras.

 

Estratégias!

Adaptarmo-nos às várias mudanças que se seguem a um divórcio pode demorar bastante tempo e, às vezes, ser difícil e doloroso até se adaptarem às nossas rotinas e dinâmicas.

O divórcio é normalmente um momento difícil quer para os Pais quer para os filhos, toda a gente se pode sentir confusa e stressada. Se para nós for importante compreender as razões que levaram à separação dos Pais podemos escolher um momento calmo e perguntar-lhes porque decidiram separar-se. No entanto, embora possamos obter algumas respostas, algumas coisas serão sempre privadas entre os nossos Pais e não precisamos de as saber.

É fulcral que exista uma conversa honesta e que haja abertura para os filhos esclarecerem as suas dúvidas e compreenderem o que se passa e o que se segue. É ainda importante que preparem os filhos para o que se prevê que aconteça a seguir;

O divórcio é uma decisão dos Pais, mas tem um impacto significativo nos filhos, por isso é fundamental que os Pais tentem perceber como se estão a sentir os filhos, com quem gostariam de viver, como gostariam de dividir o seu tempo, organizar o seu tempo e dar-lhes alguma previsibilidade, segurança e rotina;

É importante que criem um ambiente de partilha e compreensão em que todos se sintam unidos  e acolhidos em prol do bem-estar dos filhos e apesar desta separação;

É fundamental que saibam “separar as águas” e que passem a ter sempre presente o impacto do vosso comportamento no bem-estar dos vossos filhos. Nem sempre é fácil mas é muito importante que não utilizem os vossos filhos para se atingirem um ao outro, que compreendam que eles não têm “responsabilidade” desta situação difícil e dolorosa e que os pais devem continuar a assumir o papel de pais, mesmo que deixem de ser um casal;

Pedir ajuda e conversar com alguém – um irmão, um amigo, um familiar e, em casos mais dolorosos e difíceis, com um Psicólogo pode ser muito útil e vai fazer-vos sentir melhor!

Mafalda Hormigo, Psicologa Clínica

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